Homenagem: Violonista Thereza Martins, 80 anos!




Por Fernando Moura Peixoto

“Ser negro no Brasil é uma batalha. O negro está sempre tendo que provar que é capaz. E tendo que provar duas vezes.” 
(HAROLDO COSTA)
Carioca de Copacabana, aos 79 anos, Thereza da Conceição Gomes Martins, nome artístico, Thereza Martins, ou, simplesmente, Dona Thereza - como é respeitosamente tratada no meio musical -, entrou para o renomado Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, do Instituto Cultural Cravo Albin,ICCA:
“Instrumentista. Violonista. Irmã de criação da pianista Marina Moura Peixoto. Viúva do violonista, violonista tenor, tocador de banjo americano, cavaquinista e bandolinista Justo Gomes Martins Neto [1925 – 1993], o ‘Paulistinha’, um dos fundadores da formação inicial do conjunto paulista ‘Demônios da Garoa’, e que integrou também o conjunto ‘Anjos do Inferno’.”
“Embora fosse irmã de laureada pianista, acabou por dedicar-se ao violão. Foi discípula de Dilermando Reis, João Pereira, Othon Saleiro, Garoto e Luiz Bonfá. Participou de inúmeros programas de calouros em diferentes emissoras, sendo presença constante nos programas de calouros da Rádio Nacional, tendo, inclusive, recebido várias vezes a nota máxima no Programa de Ary Barroso. Fez apresentações no Clube Municipal, na Rádio Tupi, e nas TVs Tupi e Rio, sendo que, nesta última apresentou-se noPrograma ‘Heloisa Helena’. Na década de 1950, tornou-se a primeira mulher a tocar guitarra no Brasil quando atuava no conjunto Blue Star. Em 2015, aos 79 anos, continuava compondo e tocando violão e apresentando-se semanalmente com diferentes grupos de choro na Praça São Salvador, e noRestaurante Baixo Gago, ambos no bairro carioca de LaranjeirasUma das poucas mulheres a tocar violão de sete cordas no Brasil.
Thereza Martins completou 80 anos de idade no dia 23 de setembro de 2015, e, na noite de sábado, 26, seus familiares lhe proporcionaram uma grande homenagem, que teve a participação de amigos e colegas da turma do chorinho - gênero musical brasileiro urbano de harmonia e ritmos bem característicos -, a que ela se dedicou, com incursões também pelo erudito. Herdeiros do talento inconteste de Dona Thereza, os filhos Herbert e Tania, assim como a neta Helena - que cursa Medicina -ensejaram-lhe diversas “canjas”. Beatriz Maria, a outra neta - recém-formada em Relações Internacionais, na UFRJ -, assistiu e deu a maior força.
O evento aconteceu na Tijuca, no salão de festas do prédio onde reside sua filha Tania Gomes Martins, diplomada em Administração, e instrumentista e cantora com experiência na noite carioca. E se assemelhou a um registro de programa especial televisivo. Alguns moradores dos dois prédios vizinhos achegaram-se às varandas, luzes apagadas - espectadores privilegiados -, para melhor visualizar e ouvir o show. A comemoração durou seis horas, findando à meia-noite.
Uma semana antes da recepção, Thereza Martins gravou, no Studio Primus, seu primeiro CD (particular), “Thereza Martins – 80 Anos”, sob a direção do filho Herbert Gomes Martins, sociólogo, engenheiro de produção e músico, e da nora Cleonice Puggian, professora e doutora em Educação.

Thereza demonstra a sua virtuosidade interpretando clássicos no violão de seis cordas: “Pedacinhos do Céu”, de Waldir Azevedo; “Ponciana”, de Ernesto Lecuona; “Antigamente”, de Garoto; “Preciso Aprender a Ser Só” e “Samba de Verão”, de Marcos Valle; “Adiós”, de Enric Madriguera; “Aquarela do Brasil” e “Brasil Moreno”, de Ary Barroso, e “Tango Jalousie”, de Jacob Gade, em arranjos seus. Além de composições próprias: “Ao Mestre Luiz Bonfá”, “Na Cadência do Choro”, “Um Tema para Radamés Gnatalli” e “Malagueña Estilizada”.
Sobrinho de Thereza da Conceição, eu me lembro das festas infantis nos anos 1950, realizadas no apartamento 206 da Rua Álvares Borgerth, nº 32, em Botafogo, onde ela morava com a minha avóCarmen Quartin Pinto de Moura e o meu avô, Eduardo José de Moura Filho, seus pais adotivos. Vovô Eduardocapitão farmacêutico do Exército, falecera em 1948, e dele não me recordo, infelizmente. A tia Thereza, já crescidinha, monopolizava as atenções dos adultos tocando o seu violão no quarto das crianças, impondo-nos silêncio forçado. E nós, que não podíamos então brincar, tornávamos seus ouvintes também. Hoje sou um orgulhoso fã.
Na noite do dia 26 de setembro efetuei cerca de 500 fotos, reduzidas à metade na edição deste vídeo. Na trilha sonora, a cargo de Dona Thereza e por ordem de entrada, “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso), Na Cadência do Choro” (Thereza Martins), Pedacinhos do Céu” (Waldir Azevedo), Ponciana” (Ernesto Lecuona), “Antigamente” (Garoto), Um Tema para Radamés Gnatalli (Thereza Martins), “Preciso Aprender a Ser Só” (Marcos Valle), “Adiós” (Enric Madriguera), Brasil Moreno” (Ary Barroso), e “Samba de Verão” (Marcos Valle).


Comentários

Postagens mais visitadas