Cantar ou não em inglês

Confiram no Oi Novo Som comentário da baterista da Cáustica Brenda e de outros compositores sobre a polêmica levantada pelo ex-produtor do Nirvana criticando bandas brasileiras que cantam em inglês. 

http://www.oinovosom.com.br/portal/blog/post?pid=901205fc-fd05-4099-8f09-2d09629ecc15


Cantar ou não em inglês


O produtor Jack Andino, nas redes sociais, criticou as bandas brasileiras que cantam em inglês. A declaração resultou em reações diversas da classe artística brasileira. O Oi Novo Som perguntou a alguns artistas o que eles acharam da afirmação do produtor do primeiro disco do Nirvana. Acompanhe algumas das respostas. 

Eu nasci e fui criado na Austrália até os 11 anos de idade. Inglês é minha primeira língua. Já no Brasil, quando comecei a compor, comecei compondo em inglês. Só comecei a compor em português muito tempo depois.
A princípio, concordo com a declaração dele: a maioria das bandas brasileiras, que se propõe a escrever músicas em inglês realmente não dominam a língua. Ou não são compreendidos pelo público gringo que pretendem atingir ou acabam pagando mico pelos erros de concordância e/ou o sotaque muito forte. Fato é que raramente dá certo.
Entendo perfeitamente a vontade de embarcar nessa, mas a dura verdade é que não é pra qualquer um. Porém, ele absolve o Sepultura. Diz que as letras são ótimas e que o Inglês deles é excelente.Eu já tive uma fase em que era fã do Sepultura, mas o valor que a banda tinha pra mim era a originalidade em terem criado praticamente um sub-gênero de metal, e não as letras. Aliás, sempre achei as letras bem ruins. Tinham muito mais valor sonoro do que, digamos, poético. Sem contar que o inglês do Max Cavalera (apesar de já ter saído, era da banda quando estouraram) é, até hoje, pavoroso.Até hoje só conheci UMA banda brasileira que conseguia fazer música em inglês de qualidade: A banda mineira Udora (inicialmente chamada de Diesel). Letras excelentes, inglês perfeito, o Gustavo (Drummond, vocalista) fala/canta sem sotaque algum...
Agora, curiosamente, é uma banda que foi para o exterior tentar a sorte, mas voltou para o Brasil compondo com saudade da cultura do país de origem e passou a compor em português. Então, de que vale, realmente, compor em Inglês aqui no Brasil?Se for apenas para satisfazer uma necessidade profunda de se expressar naquela língua, sem grandes pretensões, acho totalmente válido. Já se limitar a compor em inglês para atingir algum sucesso comercial, seja aqui ou no exterior... Acho, no mínimo, extremamente arriscado.

Jack Endino fez uma análise mercadológica. Ele é produtor. Normal! Não foi nada impositivo e ele falou o que de fato acontece. A maioria das bandas brasileiras que cantam em inglês tem problemas com isso. Muitos resultados acabam como se não cantassem em nenhuma língua. Na minha opinião, só existiu este escândalo porque foi um "gringo" quem falou.
Essa obrigatoriedade que criaram de se cantar inglês em alguns nichos é bobagem. Flertam com uma língua supostamente mais fácil e que não é natural na maioria dos casos. Escrever em outra língua não é trivial. É importante ressaltar que existem chances de se conseguir sucesso internacional. Vale destacar que o Pato Fu foi considerado uma dos melhores grupos do mundo pela revista “Time.”
Obviamente, não sejamos absolutistas. Existem casos como Sepultura e CSS. Eu mesma já gravei uma faixa aqui e outra ali. Vou defender Jack Endino. Ele falou bem. É óbvio que a decisão de se cantar em inglês, ou não, é opção pessoal e ninguém tem nada a ver com isso, mas acho que foi um conselho e vale a discussão.
Duas palavras foram unânimes entre nós: infeliz e generalista. Pessoalmente, eu ainda acho que espaço existe para todo mundo, independente da língua, desde que bem trabalhado e que a banda saiba o que quer da sua carreira."Gangnam Style" é em chinês e é o vídeo mais visto do youtube. Dizem que "Garota de Ipanema" é a música que mais tem versões, inclusive em inglês. Então, se o Tom Jobim tivesse composto em inglês, não teria tido sucesso? A língua vai depender da composição, e nem sempre do país.
Então, música instrumental não tem pátria? Se o total ficou bonito, vai ser reconhecido por quem gosta de música. A música é a língua universal. E se o inglês do brasileiro é mal falado, qual o problema? Criamos um novo sotaque. E mesmo assim, tem várias bandas brasileiras que falam muito bem inglês. Mesmo com as desculpas depois, a visão dele continua equivocada a meu ver. Há espaço pra todos, desde que bem trabalhado.
Rafa Rocha - Wannabe Jalva 
Acho que ele precisa de informação. Não conhece de fato música feita no país. Não é só porque produziu alguns artistas brasileiros, que ele conhece tudo. Temos o caso do Caetano Veloso quando morou em Londres. Ele escreveu os seus discos mais influentes com diversas (ou maioria) das faixas em inglês. Ele é desconhecido por acaso? Obviamente a preocupação em ter um inglês de qualidade é fundamental, mas acredito que a música vá além disso.

Fazer rock pesado nos anos 80 e 90 no Brasil, em português, soava estranho para os brasileiros, acostumados principalmente com as bandas norte-americanas e inglesas. Tocar era imitar os ídolos de rock internacional e por isso o inglês era encarado como a língua oficial. Também se tinha a ilusão de que assim como o Sepultura conseguiu, poderia se alcançar o mercado no exterior cantando na língua inglesa. O problema era os que não dominavam o idioma e compunham letras que realmente não dava para entender ou pela letra ou pronúncia. Hoje, o cenário mudou um pouco, há muitas bandas que já fazem rock pesado em português e a aceitação é maior tanto no Brasil quanto fora. 
Como letrista, eu tive estas duas experiências: compunha a maior parte das músicas em inglês com a banda Caution. Até conseguimos distribuir material fora do Brasil, em países como Alemanha, na época, início dos anos 2000 e cantar em inglês ajudou nisto. Hoje com a Cáustica, exploramos a poética e expressividade que o português possibilita. Estive na Musik Mess, feira de música em Frankfurt no ano passado, divulgando material da banda e vi que cantar no próprio idioma é mais aceito hoje no mercado internacional.

Comentários

  1. Li as opiniões e vejo em todas, mesmo as discordantes, um pouco de razão. Tenho acompanhado de perto esse problema porque, minhas filhas, compõem e cantam em inglês e, enfrentam problemas de desconfiança por isso.
    As musicas são boas,estilo pop country, voltadas para um publico teen que, a princípio, tem mais aceitação etc.
    Mas a dificuldade de encontrar local para show, também por causa do estilo são muitas.
    Entendo que se vc fala um inglês correto, o sotaque não faz muita diferença. Em qualquer país, as pessoas falam com sotaque. Ou alguém não percebe a diferença entre um baiano e um gaúcho falando?
    O importante é falar correto e saber transmitir a menssagem..

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